21 de dez. de 2012

casamento para todos, um avanço humano


Em vez de se interrogar abstratamente sobre supostas desordens antropológicas de uma abertura do matrimônio aos homossexuais, não seria melhor colocar todos os nossos esforços sobre a desordem antropológica de uma sociedade cujas formas de consumo, de produção e de partilha são tão pouco respeitosas à pessoa humana e à sua dignidade?

Publicamos aqui a declaração da revista francesa Témoignage Chrétien, 14-12-2012, sobre a lei do casamento para todos. A tradução é de Moisés Sbardelotto, originalmente publicada no IHU.

Eis o texto.


A homossexualidade foi perseguida ou oprimida durante longos séculos. Na realidade, trata-se de uma orientação sexual tão legítima e digna quanto a heterossexualidade.

O matrimônio é um contrato escolhido por duas pessoas mais livres e conscientes hoje do que jamais o foi. É um contrato que pode ser rompido ou renovado legalmente. Há famílias que se fundamentam fora do casamento, e 40% das crianças nascem fora do casamento.

Rejeitar esse contrato aos homossexuais seria acrescentaria uma enésima discriminação àquelas dos quais eles já foram objeto muito frequentemente. É por isso que consideramos justo que ele seja aberto àqueles – homens e mulheres – que querem dar um quadro lícito mais forte para a sua união.

Caberá às religiões refletir sobre o sentido do casamento religioso, mas seria um grave erro político colocar um contra o outro. Lembremos, enfim, que as mesmas pessoas que se orgulham das virtudes da união civil hoje, depois de terem rejeitado o PaCS [Pacto Civil de Solidariedade], muitas vezes com as mesmas palavras, são os primeiros responsáveis por uma radicalidade gerada pelo seu fechamento às liberdades individuais. Esperamos que a lição sirva.

Não acreditamos que o casamento para todos irá dissolver a sociedade. O divórcio não fez com que o casamento desaparecesse. Um número muito grande de divorciados se casa novamente. Se o casamento para todos é um modo de integração suplementar na sociedade, então não é preciso hesitar.

Consideramos que o projeto de lei atual constitui um avanço real. Distinguimos a conjugalidade, a parentalidade e a filiação. O direito de toda criança de conhecer as suas origens e a sua filiação é um direito essencial, exceto pela impossibilidade ou no caso de força maior de natureza patológica.

Enfim, pedimos a todos que abram os olhos para uma realidade que é a solidão de milhões de pessoas, em situação de indigência material, afetiva e psicológica às vezes terrível. Em vez de se interrogar abstratamente sobre supostas desordens antropológicas de uma abertura do matrimônio a uma parte necessariamente reduzida da população, não seria melhor colocar todos os nossos esforços sobre a desordem antropológica, bem real desta vez, de uma sociedade cujas formas de consumo, de produção e de partilha são tão pouco respeitosas à pessoa humana e à sua dignidade?

A humanidade cresce quando os cidadãos se recusam a sacralizar os laços de sangue e dão a precedência aos laços de fraternidade que os unem. Assim, o que os une, mesmo dentro da família, procede da adoção. Cristo na cruz dizia a João: "João, eis aí a tua mãe", e à sua mãe: "Mulher, eis aí o teu filho". Não é a paternidade biológica, não são os laços de sangue que nos tornam irmãos e irmãs. O nosso DNA único e comum é um amor fraterno que desloca as fronteiras dos nossos preconceitos e dos nossos medos para mais longe.

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