19 de dez. de 2012

cerco

Laerte, via

Os números não deixam espaço para o otimismo. É a conclusão a que se chega quando se toma conhecimento dos dados da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, encomendada pela Fundação Pró-Livro e pelo Ibope Inteligência. O estudo, que está na sua terceira edição e envolveu 5.012 pessoas em 315 municípios do país, traçou um panorama preocupante: houve uma queda de 9% de leitores em comparação a 2007, o último ano em que a pesquisa foi feita.

Estatisticamente, seria possível afirmar que 50% da população do país, ou 88 milhões de pessoas, não leem sequer um livro por ano. Ao mesmo tempo, aumentou o número de pessoas que afirmaram passar o tempo de lazer na internet ou vendo televisão – para esses entrevistados, a leitura não seria uma opção de passatempo.

Nesse cenário pessimista, conquistar novos e jovens leitores seria essencial. Mas como? É uma das perguntas que a socióloga Zoara Failla, coordenadora do estudo, tenta responder nesta entrevista aqui.

Fonte (indicação de Lair Amaro, sempre instigante)

* * *

(...) os resultados do levantamento revelam um cenário preocupante. O Brasil é um dos países que menos leem na América do Sul. Enquanto os brasileiros leem cerca de quatro livros por ano, os argentinos leem 4,5 e os chilenos, 5,4.

(...) A principal razão apresentada por mais da metade dos entrevistados para não ler é a falta de tempo, seguida pela falta de interesse. A maioria também considera mais prazerosas outras atividades que não a leitura. Assistir à televisão é o passatempo preferido de 85% das pessoas. Ouvir rádio e sair com amigos também estão entre as preferências. Já a leitura, seja de livro, revista ou jornal, só está nos planos para tempo livre de 28% dos entrevistados.

Apesar de ser uma das últimas opções de muita gente, a leitura é considerada importante por grande parte dos entrevistados. Para 64%, ler representa “fonte de conhecimento” e 6% pensam que a leitura é uma forma de “vencer na vida” e “melhorar a situação financeira”, embora 47% dos entrevistados digam não conhecer ninguém que tenha se tornado bem-sucedido por causa dos livros.

A pesquisa também mostra que no Brasil são os estudantes os que mais leem. Crianças entre cinco e 17 anos, em idade escolar, representam 35% dos leitores do país.

Entre os entrevistados que estudam, o percentual de leitores – 48% – é três vezes maior do que o de não leitores – 16%.Entre as pessoas que não estudam, a parcela de não leitores é cerca de 50% superior à de leitores.

Os dados mostram ainda que a maioria das crianças só lê livros didáticos obrigatórios e paradidáticos indicados pela escola. Isso é mais evidente entre os cinco e 10 anos, faixa etária em que somente 28% leem por iniciativa própria.

Para Pansa, isso é reflexo de que não basta investir em políticas públicas de incentivo à leitura no ambiente escolar, mas é preciso incentivar o contato com livros em casa. “Os pais têm que dar o exemplo, mostrar que a leitura também é entretenimento, não apenas obrigação”, afirma.

A pesquisa confirma a influência da família na aquisição do hábito da leitura. Entre os leitores, 43% apontam a mãe como figura determinante nessa escolha, enquanto seis em cada dez não leitores afirmam nunca terem visto os pais lendo.

Como solução possível, Pansa aponta o investimento em espaços não formais de educação, como bibliotecas. “Tornar as bibliotecas públicas um ambiente atraente e acolhedor, com opções de atividades culturais e de lazer – com programações atrativas, espaços confortáveis, grupos de leitura, horários acessíveis, entre outros – ajudaria a fazer com que a imagem da biblioteca não seja associada somente a um dever escolar.”


A propósito, dê também uma olhada aqui.

"Isso vale para livros fechados também ou é só mais uma
afetação intelectual do televisão-é-para-a-plebe? :) Eu adoro Quino,
mas até neles os automatismos dos intelectuais anos 1970/80 se incrustam."
(Wilson Gomes, aqui)

Não adianta endeusar o livro em detrimento de outros produtos. Há bons e maus livros, revistas, jornais, programas de rádio e televisão, música documentários, filmes - e não gosto, pessoalmente, de classificações pré-concebidas de "bons" ou "maus" produtos, acho que muito preconceito se esconde aí.

Do mesmo modo, há ler, ouvir música ou ver filmes só por lazer, para desligar (o que não é mau em si - o que preocupa é o excesso ou, pior, a exclusividade), e há fazer o mesmo para se ligar ao mundo, à realidade, para inquirir e questionar (e também aqui o excesso pode ser aflitivo).

Por outro lado, a leitura pode e deve ser um canal privilegiado para o desenvolvimento de uma consciência crítica. Para que cada um possa justamente se munir de ferramentas para fazer seu próprio discernimento crítico diante de todos os produtos que lhe caírem nas mãos. E a falta de capacidade de leitura crítica, num mundo em que somos bombardeados por um volume cada vez maior e um fluxo cada vez mais acelerado de informações, é alarmante. Porque informação que não é apropriada criticamente pelo receptor não vira conhecimento, vira manipulação.



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