25 de dez. de 2012

o que o natal nos propõe


De Marcelo Barros, monge beneditino e escritor, no Adital:

As propostas para os dias de Natal são as mais diversas. Agências de turismo oferecem passeios paradisíacos. No comércio, há sempre um Papai Noel para dar algum presente que a pessoa tem de comprar. E em muitas famílias e empresas, Natal é época de comer e beber desenfreadamente. Além dessas propostas consumistas, Natal pode ser ocasião de bons encontros e confraternizações. Entretanto, se você quiser mais do que isso, lembre-se que, originalmente, Natal significa renascimento. Embora ninguém saiba a data exata do nascimento de Jesus, desde o século IV, os cristãos tomaram o 25 de dezembro, solstício do inverno no hemisfério norte, como referência para celebrar a vinda do Cristo, como sol que ilumina e dá sentido novo a nossas vidas. No hemisfério norte, o sol quase desaparece totalmente, quando, a partir desse dia do solstício, como que renasce e volta a brilhar no horizonte. Assim também, os cristãos festejam o nascimento do Cristo que renasce em nós para nos fazer renascer com ele. Por sua origem de festa solar, o Natal é mais a celebração do renascimento do que do simples nascer. Aliás, o que significaria nascer, se não fosse para se dispor a um constante renascer? O poeta Pablo Neruda afirmava: "Nascemos como esboço – É preciso sempre renascer. Nascemos para renascer”. Podemos dizer que renascemos toda vez que realizamos os passos que a vida exige. Eles acarretam um superar uma etapa que exige de nós como morrer para o jeito de ser anterior e assumir o compromisso de renascer para uma nova etapa de vida. Continuamente. Paulo escreve: "Quando eu era criança, pensava como criança, falava como criança. Ao me tornar adulto, deixei as coisas de criança” (1 Cor 13, 11). Em cada idade física, o ser humano larga uma idade e renasce para outra. Em uma conversa com Nicodemos, Jesus explica: "O que nasce conforme o mundo (ou no modo de falar hebraico: o que nasce da carne) é carne, ou seja, do mundo. O que nasce do Espírito é espírito. Por isso, insisto, é preciso nascer de novo, nascer do Espírito” (Jo 3, 7).

O sentido mais profundo da celebração do Natal é nos dispor a renovar em nós essa disposição do renovar-se interiormente, ou como diz Paulo: deixar de lado o velho modo de ser e revestir-se interiormente de um novo modo de ser. Conforme os evangelhos, foi isso que Jesus fez durante toda a sua vida. "Ele cresceu em sabedoria, em idade e em graça, diante de Deus e dos homens” (Lc 2, 40). Em grego, o termo "Cristo” significa "ungido” ou "consagrado”. Na história bíblica, vários profetas e personagens importantes foram chamados de Cristo ou de consagrado. Jesus de Nazaré viveu essa vocação de modo tão profundo e pleno que, ao dizermos "Jesus é o Cristo, o consagrado de Deus”, tomamos essa afirmação como se fosse um nome próprio: Jesus Cristo. E ele faz de nós irmãos seus porque nos dispõe para sermos também, cada um/uma do seu modo, Cristos, consagrados de Deus nesse mundo para testemunhar o projeto que Deus tem de amor e justiça para o universo.

A festa do Natal é a celebração desse novo renascimento. A cada ano, marcamos um passo a mais nesse caminho. Cada pessoa é chamada a fazer de sua vida uma gruta natalina, uma caverna que, como útero grávido, acolha o nascimento do novo ser que somos chamados a ser e que no Natal nos comprometemos a nos tornar: humanos como Jesus.

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