17 de set. de 2012

comer ou não comer, quem decide?


Como serpente que morde o próprio rabo, o sistema alimentar industrial – que é o principal causador da mudança climática global - se sacode pelas perdas de colheitas devido a intensas secas nos Estados Unidos. Em algumas partes, apesar de haver colheita, esta não pode ser utilizada porque por falta de chuva as plantas não processam os fertilizantes sintéticos e tornam-se tóxicas para o consumo. Tudo isso está relacionado com o mesmo sistema industrial: sementes uniformes, sem biodiversidade, com agrotóxicos e fertilizantes sintéticos, com uso de transporte, energia e petróleo -portanto, grande emissor de gases de efeito estufa-, e controlado pelas transnacionais.

No caso do milho, a escassez se exacerba porque 40% da produção nos Estados Unidos destinam-se ao etanol, ou seja, para alimentar carros em vez de gente.

Por os Estados Unidos serem um dos principais exportadores mundiais de milho, soja e trigo, juntamente ao fato de que 80% da distribuição global de cereais está em mãos de quatro multinacionais que administram o abastecimento de modo a obter mais lucros, a baixa de produção nesse país tem efeito dominó sobre o mercado global, onde os preços dos alimentos estão disparados. Além dos grãos, sobem os preços das aves, dos porcos e do gado, já que mais de 40% da produção de cereais do mundo é usada como forragem para a criação industrial confinada de animais. O que é outro absurdo do mesmo sistema agroindustrial, já que seria muito mais eficiente usar os cereais para a alimentação humana e consumir menos carne, ou que a criação fosse em pequena escala, com forragens diversificadas. A criação industrial confinada e massiça de animais também dá origem a epidemias, como a gripe suína e a gripe aviária, que, por sua vez, geram escassez e aumento de preços, como vimos recentemente no México, com o aumento do preço dos ovos devido a um brote de gripe aviária.

Os que mais sofrem com os aumentos de preços são os mais pobres, principalmente os que vivem em zonas urbanas, que gastam 60% de seus ingressos em alimentos.

Ao contrário, as poucas transnacionais que controlam o sistema alimentar e agroindustrial (da Monsanto até a Wal-Mart, passando pela Cargill, ADM, Nestlé e algumas mais), que controlam as sementes e pés de criação, os agrotóxicos, a compra, distribuição e armazenamento de grãos (também para biocombustíveis), os processadores de carnes, alimentos e bebidas, bem como os supermercados, são os responsáveis pela crise; porém, se blindaram contra seus efeitos, trasladando as perdas para os pequenos produtores, para os consumidores e para os cofres públicos. Para elas, o caos climático e a escassez não significam perdas, mas aumento nos lucros, como acontece com as sementes, com os agrotóxicos e fertilizantes que voltam a ser vendidos, ou a empresas que armazenam cereais, os acaparam e especulam, vendendo-os mais caros; ou os produtos em supermercados, cujo preço aumenta muito mais do que a proporção no início da cadeia produtiva.

(...) Se as políticas públicas protegessem a produção agrícola e pecuária diversificada e de pequena escala, com sementes próprias e públicas nacionais, se diversificariam os riscos –inclusive climáticos- e teríamos produção alimentar suficiente, acessível e de melhor qualidade.

(Leia na íntegra no Adital)

* * *

Falar nisso, já viu a foto do Ronald McDonald original? Era ainda mais assustador do que o atual. Aqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...