30 de jan. de 2013

"educamos para um contexto que não existe mais"


"Em tempos de mudança, os que se mantiverem abertos para aprender
vão se apropriar do futuro, mas os que acreditarem saber tudo
estarão bem preparados para um mundo que deixou de existir."

Mais do que mudar a forma como a tecnologia é usada na educação, a proposta de Marc Prensky [leia uma entrevista com o pesquisador de educação e tecnologia aqui] é mudar toda a educação, pois ela é "terrível" em todos os lugares do mundo. (...)

Em tempo: Prensky é "autor do livro Não me atrapalhe, mãe – Eu estou aprendendo!, em que apresenta hipóteses de que os videogames, quando usados de maneira apropriada, são bastante benéficos para os jovens. Pontua que os games ensinam princípios importantes sobre colaboração, tomada de decisões diante de riscos, formulação e execução de estratégias e até complexas decisões morais e éticas. (...) Tem estudado muito sobre novas propostas direcionadas a dar ênfase em habilidades voltadas ao estímulo do senso crítico, aprofundamento do pensamento, sociabilidade e relacionamento humano." (via) Prosseguindo:

O termo "nativos digitais" refere-se às pessoas que já nasceram na era digital, e se opõe aos "imigrantes digitais", ou aqueles que conheceram o mundo antes da internet. (...)

"O mundo todo está em uma má situação em termos de educação", diz, "não são só países como o Brasil, só países em desenvolvimento". "E por que digo que a educação é terrível? Porque educamos para um contexto que não existe mais", afirmou, explicando que hoje em dia não se precisa de matemática, ciência e física como na época em que essas temáticas foram incluídas no currículo. "E ninguém ouve quando alguém diz, 'vamos fazer isso diferente'", completou.

Na visão de Prensky, o foco da educação deveria estar nos "verbos" e não nos "substantivos". "Questionamos se as crianças deveriam usar o PowerPoint, a Wikipédia em sala. Mas isso são 'substantivos'. O que realmente queremos é os 'verbos': apresentar, aprender, ler", explicou. "Os verbos não mudam, queremos os mesmos 'verbos' há mil anos", resumiu, citando pensamento crítico, lógica, criatividade. "E há muitos desses verbos, mas temos que nos perguntar: quais são os 'verbos'-chave? E só depois que soubermos disso, nos perguntamos quais 'substantivos' vamos usar", definiu.

Cérebro estendido
Para responder a essas perguntas, o especialista apresentou o conceito do cérebro estendido, uma soma do cérebro de cada um com as possibilidades oferecidas pela tecnologia. Para o pesquisador, o cérebro é bom em algumas atividades, mas pode se beneficiar das máquinas para, por exemplo, "lembrar tudo ou processar três milhões de dados". Em um dos slides, Prensky resumiu a ideia com uma citação de uma criança de 10 anos: "antigamente as pessoas precisavam saber de cor os números de telefone".

A forma de lidar com esse cérebro estendido seria, pois, combinar as potencialidades das máquinas e dos cérebros. "E acho que é isso que vocês estão fazendo aqui. Vocês são as pessoas que vão criar a inovação", afirmou à audiência do palco principal do Anhembi Parque.

Para falar sobre suas ideias aplicadas à educação, o pesquisador citou um estudante que disse "a coisa mais inteligente que já ouviu": que professores entendem a tecnologia como ferramentas, enquanto estudantes a entendem como uma fundação, uma base que se estende sob o restante.

Trivial x poderoso
Prensky também falou de como vê a tecnologia envolvida na educação de duas formas, uma "trivial" e a outra "poderosa". "A primeira é fazer as mesmas coisas que sempre fizemos, em novas formas - sempre escrevemos, agora temos um blog ou usamos teclado. Eu chamo de trivial, não porque não é importante, mas porque já fazíamos antes. E há as coisas que não podíamos fazer, que chamo de poderosas", explicou citando chamadas de voz por IP, tweets, impressão 3D, inteligência artificial, jogos, simulações e robótica entre as formas "poderosas" de a tecnologia influenciar a educação.

"Mas por mais que gostemos de tecnologia, é preciso lembrar que há coisas muito importantes na educação que ela não faz", destacou, citando empatia, escolha e paixão. Para ele, essas são as coisas que o cérebro faz melhor, e que é nisso que os professores devem se focar, adaptando o "como" ensinam.

E é preciso adaptar também, segundo Prensky, mudar o "o quê" se ensina. Ele defende que no novo modelo de educação os jovens sejam "nós da rede", que possam se conectar o máximo possível e que os professores orientem o percurso, fazendo, de acordo com o pesquisador, o que cada um faz melhor: os estudantes, se conectar e achar os conteúdos, e os professores, questionar, orientar e avaliar.

"Muito se diz que a escola precisa ensinar 'o básico' para as crianças, mas 'o básico' também está mudando", defendeu, apresentando sua proposta do que seria o novo "básico" da educação formal, que ele chamada de eTARA, sigla em inglês para o conjunto de pensamento, ação, relacionamento e conquista efetivos. Programar, na lista de Prensky, é parte de pensamento efetivo, assim como ética de relacionamento, e empreendedorismo de ação.

O pesquisador finalizou incentivando os empreendedores e geeks que o ouviam a criar aplicativos, programas e outras ferramentas para mudar a forma do ensino usando a tecnologia.

(Deborah Salves, para o Terra)

* * *

Atualização 31-01-13:

Além da entrevista do Estadão (aqui), vale conferir a palestra na íntegra (via):

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...