6 de set. de 2012

do teatro grego ao facebook



"Do teatro grego para as competições de oratória no foro romano, até os palanques midiáticos da era televisiva, a democracia e a competição política apresentaram-se no mundo ocidental em forma de espetáculo público, ou seja, de apresentação de argumentações e programas submetidos ao julgamento dos espectadores. Estes eram chamados a opinar e escolher suas peças preferidas, o discurso mais bonito ou seus candidatos", escreve Massimo Di Felice, sociólogo, professor de teoria da opinião pública na ECA-USP e coordenador do Centro de Pesquisa Atopos (ECA-USP).

(...)

Com o advento da comunicação digital esse modelo comunicativo, que permaneceu presente no decorrer da história nas distintas épocas midiáticas e culminou com a forma da espetacularização da política televisiva, entra definitivamente em crise. Com a difusão das mídias móveis e das redes sociais digitais, muda a arquitetura de produção e distribuição das informações, alterando aquele modelo antigo que uniu o teatro grego à TV. Se a mídia e a política de massa criavam público e buscavam consenso através da comunicação frontal, as arquiteturas interativas digitais nos propõem a forma de produção colaborativa de conteúdo que se desenvolve mediante a interação reticular de sujeitos ativos. Do YouTube ao Facebook e à Wikipedia assistimos à passagem de uma forma receptiva de comunicação a uma forma interativa e coletiva.

Se por milênios os fluxos comunicativos foram unidirecionais e a forma de distribuição dos conteúdos mantinha as dinâmicas piramidais da emissão de informações de um centro (emissor) para uma periferia (receptor), a revolução comunicativa digital introduz, pela primeira vez na história da humanidade, um modelo comunicativo interativo, baseado no sistema de rede que, anulando a distinção identitária entre emissor e receptor, oferece a todos os internautas (tecnoatores) o mesmo poder comunicativo e igual oportunidade de acesso. Além disso, tal ruptura comunicativa inaugura um tipo de interação que ativa a comunicação e a torna possível somente no interior das interações dinâmicas entre interfaces, redes e internautas, conferindo aos últimos o papel de construtor das informações e produtor de conteúdos.

Os pressupostos dessa nova cultura midiática interativa são o exato contrário da forma analógica. Para a descrição das arquiteturas comunicativas das interações digitais parece, consequentemente, necessário substituir o conceito de público para aquele de redes, nas quais o significado e o conteúdo do comunicar não são mais pré-codificados e estabelecidos pelo emissor, mas construídos e viabilizados pelo processo interativo.

Essa passagem da mídia de massa para a personal mídia, do analógico para o digital e do ver para o tecnoagir não deixará de alterar a natureza da sociedade e os significados da ação política.

De um ponto de vista político midiático, nossa época é marcada por uma paradigmática transformação que vê o advento de uma nova forma de democracia. Ela é baseada na articulação de consenso através da construção colaborativa de redes informativas que articulam novas formas de sinergia entre indivíduos e informações. Mais que sobre o consenso e apresentação de candidatos, essas novas formas de atuação produzem mudanças diretamente sobre os territórios por meio da participação e da troca informativa de rede de cidadãos. À figura do político portador de um programa e líder de uma corrente partidária sucede o ativismo dos tecnoatores, que através do livre acesso às informações articulam-se, discutem e produzem informações de forma colaborativa. Em todos os continentes produz-se uma forma tecnoinformativa de participação, cidadania e processos de transformações sociais. Foi assim que os cidadãos das antigas cidades gregas tornaram-se autores e atores das tramas encenadas no final da tarde no começo de outras primaveras.

(Leia na íntegra aqui.)

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