12 de dez. de 2012

ouvir além das palavras


“O fenômeno da comunicação depende não do que é transmitido,
mas do que acontece com a pessoa que recebe a mensagem.”
Humberto Maturana

(...) As pessoas se comunicam em vários níveis. Tudo fala. As roupas, os olhares, a respiração, um jeito específico de se curvar ou se levantar, a forma como batemos as mãos ou os pés. Cada pequeno detalhe tem voz, toca uma música.

Assim como é preciso treinar os ouvidos para discernir timbres, tons e efeitos em uma música, também precisamos treinar para realmente ouvir, comunicar e gerar conexão.

Quem já teve a oportunidade de assistir uma orquestra tocando ao ar livre pode relatar como o ambiente inteiro se relaciona com o que está sendo tocado. Não é algo metafísico, nem fantasioso. O vento sopra de uma forma diferente, todos se olham, sorriem silenciosamente, as árvores balançam, os pássaros enlouquecem.

Quando uma pessoa fala, algo similar acontece. Há uma variedade de outras ações sendo executadas ao redor e isso pode facilitar ou dificultar o processo. Às vezes, ela pode estar querendo desabafar, mas o ambiente não é favorável. Algum ruído pode surgir ou pode ser que haja pessoas ao redor em outra sintonia. Um sujeito atento pode tomar uma ação simples como trocar de lugar, alterando os níveis de abertura e conforto.

Enquanto ouve, é importante não só estar atento aos sinais abstratos mas observar as reações físicas do outro. Será que está se distraindo? Está se mexendo demais, está desconfortável, tentando encerrar o assunto, está indiferente?

(...) Entrar no mundo do outro é sair de seus próprios preconceitos e limites pré-estabelecidos. Da mesma forma como fazemos ao visitar outros países. Não adianta chegar querendo feijoada, você acaba sendo obrigado a comer o que tem.

Ouvir é cocriar, fazer sentido, agir, enriquecer. Não apenas a habilidade de decodificar sons, mas também de dar importância, atenção, de se relacionar com o interlocutor.

De nada adianta entrar no mundo do outro e não se relacionar com ele de uma maneira positiva. É útil estimular a conversa, perguntar, valorizar trazendo outras referências, outras visões, ajudar o outro a se expressar, retomar o foco, ir construtivamente contra – e, acima de tudo, se envolver de coração.

(...) Repousar, observar a própria mente, entrar e enriquecer o mundo do outro, relacionar-se com a situação por completo. São todas atitudes que conduzem a ações cortantes, diretas.

Um homem capaz de ouvir é alguém que vive em um universo vasto, repleto de riquezas ainda não descobertas.

Eu mesmo queria encontrar mais pessoas assim. Capazes de atravessar minhas bobagens e me dizer o que preciso, não o que quero ouvir.

E vocês, estão realmente ouvindo? Estão sendo ouvidos?

- Luciano Ribeiro, para o Papo de Homem - leia na íntegra aqui

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...