18 de dez. de 2012

violência e paranoia



“Muito cedo para falar sobre uma nação louca por armas? Não, muito tarde. Pelo menos TRINTA E UM tiroteios em escolas desde Columbine”. Autor do documentário ‘Bowling for Columbine’ (Tiros em Columbine, no Brasil - assista aqui), o cineasta norte-americano Michael Moore recorreu a sua conta no Twitter para, a exemplo do que faz grande parte dos americanos, demandar que o presidente Barack Obama lidere o enfrentamento ao lobby republicano a favor das armas.

Moore alcançou fama internacional em 2002, quando seu filme sobre o massacre de Columbine, que vitimou 15 pessoas (incluindo os dois atiradores) em abril de 1999, ganhou o Oscar de melhor documentário. Desde então, o cineasta se tornou um dos maiores expoentes contra o lobby da indústria armamentista nos Estados Unidos. Para defender seu ponto nesta sexta-feira, Moore destacou que “nesta manhã, um maluco atacou 22 crianças numa escola primária na China. Mas tudo o que esse maluco tinha era uma faca. Número de mortes? Zero“.

(...) O fato de o massacre de 27 pessoas desta sexta-feira envolver 20 crianças com menos de 10 anos pode enfim contribuir para sensibilizar aqueles que ainda acreditam que a posse de uma arma é garantia de segurança. A impressão, aliás, é que se os EUA não derem um basta à questão agora, não o farão nunca mais. O problema da vez é que a oportunidade para evoluir no assunto surge bem na hora em que o presidente Obama tenta se entender com os republicanos para evitar o abismo fiscal. (Na íntegra aqui)

* * *

De Mauro Santayana, em seu blog (na íntegra aqui):

"Uma sociedade que envia seus jovens ao mundo inteiro para matar, em nome dos negócios, não pode espantar-se com os massacres de seus adolescentes e suas crianças (...). Muito da cultura norte-americana tem sido, desde a guerra deliberada contra os índios e o avanço para o Oeste, uma cultura da morte. Para formar exércitos de assassinos, é necessário adestrar  seus possíveis integrantes para matar sem vacilações. Para isso é preciso criar os mitos, como os do heroísmo, da coragem, da ousadia, da força física, da astúcia dos predadores,  contra os povos indefesos do mundo inteiro. É preciso reduzir o homem ao réptil que foi na origem dos tempos.

"(...) A ideia de matar é estimulada nos americanos desde a infância. Na adolescência, a arma de fogo, para muitos, é símbolo da masculinidade. E esse apego à violência e ao sangue tem sido exportado ao mundo inteiro pela sua fantástica indústria do entretenimento, na literatura, no cinema e, mais recentemente, nos jogos eletrônicos e nos enlatados da televisão. (...)

A intimidade com o sentimento da morte gera também o medo, o pânico, e a vontade paranoica do suicídio."

...com o que o próprio Michael Moore (na íntegra aqui) não deixa de concordar, também associando a agressividade ao medo paranoico:

"Os estadunidenses somos incrivelmente bons para matar. Acreditamos em matar como forma de conseguir nossos objetivos. (...) Nossa tendência a matar não é somente histórica (o assassinato de índios, de escravos e de uns e outros na guerra 'civil'): é nossa forma atual de resolver qualquer coisa que nos inspira medo. É a invasão como política externa. (...) Somos um povo que se assusta com facilidade e é fácil de ser manipulado pelo medo. De que temos tanto medo, que necessitamos ter 300 milhões de armas de fogo em nossas casas? Quem vai nos ferir? Por que a maior parte dessas armas se encontra nas casas de brancos, nos subúrbios ou no campo? Talvez, se resolvêssemos nosso problema racial e nosso problema de pobreza (uma vez mais, somos o número um com maior número de pobres no mundo industrializado), houvesse menos pessoas frustradas, atemorizadas e encolerizadas estendendo a mão para pegar a arma que guardam na gaveta."

* * *

"Os Estados Unidos da América são um país excepcional com relação ao mundo inteiro quanto à intensidade do sentimento religioso e quanto ao fascínio pela violência e pela morte: as duas coisas estão ligadas. (...) Aquelas crianças mortas, as lágrimas dos seus pais e de todos os pais dos EUA são os sacrifícios humanos que a América deixa se impor pela religião do fuzil. Até agora, as Igrejas norte-americanas foram tímidas sobre a questão das armas, muito mais tímidas do que sobre outras questões pro-life: é hora de que o controle das armas comece a fazer parte da 'cultura da vida' na América religiosa. Até então, a religião das armas continuará ceifando vítimas."

- Massimo Faggioli, historiador italiano, aqui

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"Se Obama quer mudar uma mentalidade como essa poderia começar por proibir o uso dos drones, aviões não tripulados, para praticar crimes em terras remotas que fazem as vezes de novo Velho Oeste.

"Sejamos claros: esse tipo de ataques corresponde a execuções extra-judiciais e, portanto, viola uma das vacas sagradas da democracia norte-americana qual seja o devido processo legal.

"Admito que é uma tarefa insana combater terroristas fanáticos, mas rasgar para isso códigos civilizados de conduta é armar o braço de mentes igualmente insanas para que matem crianças tão lindas e tão queridas, como são todas as crianças aos olhos dos pais." 

(Clovis Rossi, em sua coluna de hoje na Folha de S. Paulo, na íntegra aqui)

Enquanto isso, ONGs de donos de armas já estão defendendo a liberação do uso de armas nas escolas americanas, sob a alegação de que, "armados, os presentes no interior da escola poderiam ter resistido ao chacinador" (em português aqui).

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