15 de dez. de 2012

como combater os injustos sem se parecer com eles

Transeunte rasga banner de manifestantes da TFP contra o casamento LGBT (Via)

De Miriam Martinho, para o Um Outro Olhar (leia na íntegra aqui):

Uma das principais críticas aos movimentos sociais, principalmente por sua vertente politicamente correta, é de que seus membros se fazem de vítimas o tempo inteiro, colocando-se como ofendidos por qualquer coisa, da mais banal a mais séria. Parte dessa crítica é procedente. Há mesmo muito "ofendidismo" circulando nos diferentes tipos de ativismo, e, como diria Hegel, quem exagera no argumento prejudica a causa.

Entretanto, algumas das forças políticas que criticam esse ativismo "excessivamente sensível" por acaso agem de forma diferente? Não se fazem de vítimas aqueles que na verdade, com base em dogmas religiosos, vivem perseguindo, por exemplo, homossexuais, lutando contra a igualdade de direitos entre as pessoas em nome de bíblias, famílias e outras tantas? Saem pregando a discriminação e posam de vítimas!? Posam sim.

(...) Naturalmente, a hipocrisia dessa gente faz o sangue de qualquer um(a) ferver, mas ataques contra esses tipos, sobretudo físicos, só os beneficiam. Depois eles fazem uma compilação das reações agressivas das pessoas, indignadas contra sua lixeira religiosa, como no vídeo abaixo, e posam de vítimas, falando com voz calma e postura tranquila que - tadinhos - os LGBT é que são intolerantes e contrários à liberdade de expressão. E essa imagem cola!

Quem já praticou alguma arte marcial sabe muito bem que para vencer uma luta não basta técnica mas sobretudo precisa-se de controle emocional. Campeões mantêm a cabeça fria, o coração, ameno. Aliás, a raiva é a maior inimiga do bom senso em geral. O ativismo LGBT precisa fazer um pouco de psicodrama antes de enfrentar essa conservalha pelo visto tanto nos EUA seja quanto no Brasil.

Nos tempos do movimento pelos direitos civis dos negros americanos (1955-1968), os ativistas, influenciados pelo pacifismo de Gandhi, faziam manifestações não-violentas contra o racismo, como os célebres sit-ins. Entravam nos lugares só para brancos, sentavam-se e lá ficavam sem serem atendidos ou sem reagir às agressões e às prisões que acabaram ocorrendo. Eles treinavam para isso, e deram fim, no médio prazo, à infame segregação pela via dessas ações. Por isso, deixo também um vídeo sobre os sit-ins daquela época à guisa de recordação de um bom tempo onde os oprimidos sabiam se distinguir claramente de seus opressores. Quem sabe a lembrança não sirva de inspiração para se repensar formas mais justas de agir contra os injustos nos dias de hoje. Na base do olho por olho, como diz um ditado, todo mundo acabará cego.



* * *

O amigo Hugo Nogueira comenta e colabora:



"O curioso que os hinos do movimento gay são músicas de discoteca. Nesse vídeo foram usadas as únicas imagens da Revolta de Stonewall, que deu origem ao movimento gay moderno, além disso, imagens das primeiras paradas que se seguiram, cata o cartaz com a imagem de Jeus escrito Why?, e da vitória de Harvey Milk."

2 comentários:

  1. esse vídeo é de quebrar o coração, mas foi a coragem dessas pessoas que permitiu as mudanças que se seguiram.

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  2. cada vez mais me convenço da importância política das convicções internas e atitudes pessoais que se desdobram em pequenos gestos. cada vez mais acredito que é essa "micropolítica" que acarreta as grandes revoluções.

    de vez em quando ouço gente dizer que as mudanças na sociedade, e especificamente as conquistas no campo dos direitos civis das minorias políticas, ocorrem "naturalmente", são frutos "espontâneos" do "progresso", da "História". balela. geralmente quem diz isso não tem nada a perder com o status quo, ou nada a ganhar com sua transformação. ;-)

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