13 de set. de 2012

avós, os novos solteiros


"Uma das maiores causas de mudança na composição das famílias é o envelhecimento da população. O duplo fenômeno da redução dos nascimentos e do aumento da expectativa de vida mudou a forma tanto das unidades familiares residenciais (aqueles que vivem debaixo do mesmo teto) quanto das redes parentais e das relações entre as gerações.

Aos muitos netos que, ainda na minha geração de 70 anos, não conheceram nenhum avô, se substituíram os pouquíssimos netos que muitas vezes têm, por longos trechos das próprias vidas, quatro avós e se tornam adultos tendo ainda algum deles. Não moram juntos, em geral, mas têm relações frequentes e muitas vezes intensas.

A redução do número de pessoas que compõem uma unidade familiar de residência deve ser lida sobretudo nesse contexto de profunda transformação demográfica. As famílias se tornaram pequenas não tanto porque não vivemos junto com os próprios avós, mas porque os 'vovôs' sobrevivem por muito tempo e, assim, aparecem nas estatísticas como 'casais sem filhos' (porque os filhos não vivem com eles), ou, se viúvos, como 'famílias unipessoais' (...).

Não há apenas o fenômeno da cada vez longa permanência dos filhos na família, o que retarda a possibilidade de que estes últimos façam a sua própria família. Mesmo quando saem de casa, os jovens muitas vezes se apoiam nas famílias de origem para aceder a uma casa ou para enfrentar imprevistos econômicos.

Os avós, e sobretudo as avós, (...) são um recurso indispensável para a organização de uma família jovem em que ambos os genitores, ou o único presente, trabalham. E os idosos frágeis ou não autossuficientes necessariamente devem contar com as filhas e noras, na ausência de uma rede de serviços capilar e acessível. Mesmo quando há um cuidador, muitas vezes quem detém a liderança é uma filha ou uma nora. 'Intimidade à distância' e interdependência mais ou menos forçada são dois lados da mesma moeda.

Não são apenas os fenômenos demográficos que transformam o modo de fazer família e modificam os limites entre as relações familiares e outros tipos de relação. A própria redução dos nascimentos é resultado de profundas transformações culturais relativamente à importância dos filhos ou, melhor, do seu número, para a autorrealização e, ao mesmo tempo, do maior investimento sobre cada filho. Separações e divórcios assinalam não apenas que nos tornamos menos capazes de fazer um bom casamento, mas também que mudaram as expectativas. E estamos menos dispostos/as a permanecer em uma relação que se tornou negativa ou sem sentido.

A essa maior, embora arriscada, liberdade nas relações familiares serve de contrapeso um afrouxamento dos limites entre relações familiares e não familiares. Não me refiro apenas às famílias de fato, hetero ou homossexuais, mas também às chamadas 'famílias de escolha', baseadas na escolha recíproca de solidariedade mais do que em estatutos institucionalizados. Pode assumir a forma da coabitação, mas o mais frequente é o de uma rede de autoajuda mútua e de socialidade cotidiana.

(...) A capacidade de construir famílias e redes 'familiares' continua sendo vital. Basta olhar para além do modelo único."

(via)

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