13 de set. de 2012

quem tem medo do facebook?


É engraçado como estamos construindo nossas novas formas de amizade, pelo menos online. Não existe mais isso de que todo mundo que temos nas redes serem nossos amigos, se é que já existiu. Adicionamos as pessoas por que são interessantes de alguma forma: ela parece ser bacana ou mesmo escreve sobre coisas legais. Ainda, adicionamos porque acreditamos que alguém passou no nosso processo avaliativo sexual e pode se transformar em uma potencial rapidinha no fim de semana, evoluir para algo além e etc.

E isso não é de tudo ruim, porque abre um leque de coisas que talvez você não conhecesse por outro meio. É maravilhoso quando você se sente sozinho ou deslocado do mundo e encontra ali pessoas que são malucas exatamente como você. (...)

Falando assim parece que é tudo muito bom, mas também pode ser uma merda. Criamos cada vez mais relações pessoais rasas, nossos relacionamentos passam existir somente no tempo que gastamos frente ao computador. Ficamos sabendo cada vez mais de coisas que realmente não queremos saber, já que os nossos interesses na tela do computador nunca são 100% iguais aos da outra pessoa.

(...) E a partir desse filtro damos vida a nossa persona de internet, o personagem que nos representa tão bem nas redes sociais. Isso não parece imoral, pois de toda forma ainda é você. Aquela foto linda é você, mesmo que tenha sido repetida três, quatro vezes até o melhor ângulo. E aquela resposta bem formulada? Foi você quem deu, ué – mesmo que tenha ido ao Google pra construir o seu argumento um pouquinho melhor. Nossas personas nunca deixam de ser nós mesmos. É um “eu” que eu gosto mais. Um “eu” que é mais safadinho, mais inteligente, mais sagaz, mais irônico quando precisa. Aquele “eu” legal, que controla os sentimentos. Um “eu” que me dá orgulho.

O problema é que esse “eu” é um pouco distante do “eu” no cara a cara, do “eu” mesmo, do “eu” que não é tão bonito como na foto ou que demora um pouco mais pra dar uma resposta sagaz. Acabamos nos frustrando, e também as outras pessoas. Acho que é importante criar um balanço do que eu quero mostrar e do que eu sou de verdade. Temos de ter cuidado com essa tênue linha, onde em qualquer momento todos nós podemos nos perder.

Aprender dia após dia que aquele avatar sobre uma timeline não é sua vida de fato – apenas aceite isso como parte da sua vida, não como ela inteiramente. A vida é além disso! Há tantas outras coisas maravilhosas e legais para se aprender. Gente que realmente é interessante, ou não, fora da fria tela do computador. Saia um pouco do Facebook e veja como algumas pessoas soam desinteressantes na vida real, e aprenda com elas qualquer coisa que seja. Ainda tenho esperança de que estejamos conseguindo manter um lugar para que possamos ir quando não quisermos mais compartilhar nossas vidas num site esperando likes.

Porque se não estamos criando essa outra vida, antes chamada apenas de vida, para o nosso verdadeiro “eu”, vamos todos acabar velhinhos na frente de computadores e não sei vocês, mas eu não quero isso para mim.

(Ravel Brasileiro, para o Vestiário - leia na íntegra aqui)

* * *


"A internet trouxe muitas coisas boas e o 'stalking' não é uma delas. A prática de dedicar atenção obsessiva a uma pessoa, podendo resvalar em outros tipos de perseguição e conflitos, ganhou novos contornos com a tecnologia digital." (Aqui)

“'A forma como assediamos a vida uns dos outros hoje tem tudo a ver com o processo de celebrização da sociedade. Há um impulso de consumir a vida do outro, de usá-la como entretenimento, semelhante a um filme', explica Eugênio Trivinho, professor do programa de pós-graduação em comunicação e semiótica da PUC-SP." (Aqui)

"O objetivo do [Facebook] é criar parzinhos, guetos, redutos de identificação plena. É por isso que não existe um botão de 'dislike'. Para quê? Para as pessoas discutirem, se excluírem mutuamente? Nada disso. Vamos nos amar loucamente e conferir a página um do outro sete vezes ao dia." (Aqui)

* * *

"Privacidade é daquelas coisas que, intuitivamente, nos parecem importantes. Mas todos temos dificuldade de explicar por quê. Não bastasse, privacidade é coisa fluida. Quando um finlandês pergunta ao outro qual seu salário, ele ouve uma resposta de pronto. Ninguém vê motivo para ser discreto. Numa praia árabe, as áreas entre homens e mulheres são separadas por paredes, e mesmo na ala feminina elas se cobrem todas. Alemães vão à sauna mista nus sem que qualquer conotação sexual exista. Os mesmos alemães se insurgiram quando o Google decidiu publicar, no Street View do seu sistema de mapas, fotos das ruas que incluem, naturalmente, as fachadas das casas. Foto da casa vista da rua, por lá, é coisa privada.

O que é privado e o que é público varia de cultura para cultura, mas em todas existe privacidade. Charles Fried, um jurista de origem tcheca que foi advogado-geral dos EUA durante o governo de Ronald Reagan, tem talvez a melhor definição. Privacidade é o que define nossas relações. Os graus de intimidade que temos com as pessoas. Com aqueles mais próximos de nós, compartilhamos detalhes os mais íntimos. A partir daí, vamos impondo discretas barreiras entre nós e amigos de escola, colegas de trabalho, parceiros de pelada. Nossa capacidade de gerenciar a informação sobre nós que os outros têm define como convivemos em sociedade. Privacidade é importante por isso. Porque, se nossa vida é um livro aberto, nada nos protege do mundo lá fora."

(Pedro Doria - na íntegra aqui)

* * *

...mas como faz para não nos perdermos na multidão?

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