12 de dez. de 2012

choro de diplomata cala cúpula do clima


Com a voz embargada, os olhos cheios de lágrimas e um discurso sem os eufemismos comuns nas negociações diplomáticas, o chefe da delegação das Filipinas deixou ontem [dia 06-12] a cúpula mundial do clima em silêncio.

"Por favor, chega de desculpas e atrasos. Abram os olhos para a dura realidade que nós enfrentamos. Se não for agora, quando será?", apelou Naderev "Yeb" Saño na última plenária de discussões sobre a extensão do Protocolo de Kyoto na COP-18, em Doha, no Qatar.

A atitude do até então discreto diplomata filipino gerou, além de lágrimas pelos corredores, muitas palmas por onde ele passou. Mas é difícil dizer se a bronca de Saño, cujo país acaba de ser atingido por um grande tufão que deixou mais de 500 mortos e centenas de desabrigados, será suficiente para promover alguma mudança de rumo na conferência.

Faltando 24 horas para o encerramento do encontro, os pontos mais polêmicos da discussão foram, como de costume, empurrados para o último dia de negociação.

A questão do financiamento tem travado a agenda. Todos parecem concordar que o aquecimento global é uma questão urgente e perigosa, mas poucos são os países dispostos a pagar a conta.

Leia na íntegra aqui.

(E mais: Conferência do clima termina melancólica)


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Glub-glub-glub

Gelo, o mais abundante minério da superfície da Terra, talvez desapareça das paisagens antes do fim do século. Mas o degelo terá influência secundária na catastrófica elevação do nível dos mares prevista para o mesmo período (28 a 86 centímetros, variações locais dependentes de balouços das respectivas placas tectônicas).

Gelo e neve mal totalizam 3% da água mundial. E fusão de gelo flutuante acrescenta pouco ao nível do mar, apenas o correspondente à diferença de densidade entre água doce de icebergs e água salgada do mar. Segundo estudo publicado em novembro, o degelo representou apenas um quinto da elevação do nível dos mares nas últimas décadas. Fator principal foi a expansão térmica da hidrosfera. (...)

Você pode observar esse efeito-esponja no cotidiano. No calor diurno, o ar absorve vapor. Quando a noite a resfria, a esponja encolhe, espreme vapor e o deposita como orvalho. (Vapor d'água é invisível; o que você vê sair pelo bico da chaleira é um jato de gotículas.)

Estendendo o princípio: evaporação alimenta precipitação. Em média, água evaporada na atmosfera retorna ao chão em nove dias. Daí deslizamentos de encostas e alagamentos virem ganhando volume e frequência no mundo todo. (Embora a interação complexa de forças do desarranjo provoque também secas localizadas.)

Inchaços do mar e do ar condicionaram os estragos que a tempestade tropical Sandy impôs a Nova York e Nova Jersey em outubro. A maré daqueles dias intensificou, sim, a intrusão do mar. (Maré é uma onda que forças gravitacionais da Lua e do Sol arrastam pelos oceanos ao redor de toda a Terra.) Sandy chegou à costa americana surfando a crista duma preamar de lua cheia. (...)

Pondere um exemplo. O Estudo de Impacto Ambiental da usina nuclear Angra 3 dizia em maio de 2005 que não ocorrem furacões na costa leste do Atlântico Sul. Mas já em 27 de março de 2004 um furacão de categoria 1 havia aterrado em Santa Catarina. O estudo desconsiderava também projeções de probabilidade quanto a aguaceiros e escorregamentos de encostas um tanto próximas. Como, por exemplo, a precipitação de 142 milímetros em 24 horas que matou 52 habitantes de Angra dos Reis nos deslizamentos de 31 de dezembro de 2009.

Leia na íntegra aqui.

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Quatro motivos para se ter esperança no controle das mudanças climáticas

No estado atual das coisas, o mundo claramente não está nos trilhos para conter o aumento da temperatura global da mudança climática abaixo de dois graus centígrados, que é considerado como sendo o limiar de perigo do aquecimento global.

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) disse na semana passada que, na melhor das hipóteses, os compromissos atuais nos levariam a apenas metade do caminho de uma trajetória climática segura; e um relatório do Banco Mundial publicado na mesma semana mostrou alguns dos riscos de um mundo 4ºC mais quente. Qualquer pessoa envolvida seriamente com a ciência tem razão em se preocupar.

Mas eu identificaria quatro motivos para manter a esperança. Primeiro, se agirmos, ainda podemos evitar os piores impactos da mudança climática. Tanto o relatório do Pnuma quanto um relatório da Agência Internacional de Energia (AIE), publicado uma semana antes, dizem que o tempo está se esgotando, mas que 2ºC ainda estão ao alcance se conseguirmos reunir a vontade política.

Segundo, o processo internacional pode ser lento, mas está apresentando resultados. Desde a conferência de Copenhague em 2009, os países responsáveis por 80% das emissões globais fizeram promessas de ação abrangendo toda a economia. Nós concordamos em Durban no ano passado em trabalhar pelo prazo de 2015 para negociação de um novo acordo global legalmente vinculante, e eu acredito ser razoável buscar um progresso passo a passo na direção desse acordo, começando em Doha. (...)

Terceiro, nós estamos vendo uma ação séria por parte de muitos países, incluindo alguns dos maiores emissores. A Globe International relatou que as leis estão avançando em todas as maiores economias. O Brasil reduziu o desmatamento em cerca de dois terços desde o pico em 2004. A Coreia está gastando 2% de seu PIB em uma economia de baixo carbono. A China inseriu a eficiência em energia e metas renováveis em seu mais recente plano de cinco anos e está testando os mercados de carbono em sete de suas províncias. (...)

Quarto, essa mudança é escorada por mudanças importantes na economia real. Segundo a Bloomberg, o investimento em energias renováveis superou o investimento em combustíveis fósseis pela primeira vez no ano passado. Nós estamos vendo a entrada de novas tecnologias de energia renovável no mercado, competindo com sucesso. Sistemas solares fotovoltaicos apresentaram em média um crescimento anual global de 42% ao longo da última década; a energia eólica apresentou uma média de 27%.

Leia na íntegra aqui.

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